Entre os dias 23 e 25 de julho, em Tarituba, a Prefeitura de Paraty e a TurisANGRA realizaram o I Encontro de Turismo de Base Comunitária (TBC) da Costa Verde. Foi decidido que será realizada uma reunião em outubro, em Ilha Grande, Angra dos Reis, para dar continuidade aos encaminhamentos necessários para o avanço do TBC. Representantes de comunidades tradicionais caiçaras, quilombolas e indígenas marcaram presença nas diversas mesas do encontro, explicitando as experiências e pensamentos acumulados pelo Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT), o qual trabalha com este tema desde 2007. Ficou evidente que garantir um território livre para a permanência e desenvolvimento sustentável das comunidades tradicionais é uma condição fundamental para qualquer política de TBC.
A voz das comunidades: nosso território livre!
“Sem território não existe turismo de base comunitária, precisamos garantir a nossa permanência nele”, afirmou Francisco Ticote, representante da comunidade caiçara do Pouso da Cajaíba. Vagner do Nascimento, coordenador do FCT, fez um chamamento a todos os presentes para se unirem na construção de um território livre, sustentável e saudável; e alertou a todos sobre o risco das PPP (parcerias público-privadas) na gestão das unidades de conservação. "Se a privatização das florestas acontecer, não vamos conseguir evoluir o TBC em nosso território" – alertou Vagner.
Ivanildes Kerexu, representante da Aldeia Guarani Paraty-Mirim, lembrou que na cultura Guarani é muito forte a busca pela “terra sem males”, por um território livre. "Em nossa cultura e religião, o território e sua mata são respeitados. Queremos nosso território livre!" – declarou Ivanildes. Angélica Pinheiro, representante do Quilombo do Bracuí, defendeu que, nos quilombos, o turismo deve ser “feito pelos próprios quilombolas, um turismo diferenciado e sustentável”. Daniele Elias, representante do Quilombo do Campinho da Independência, apresentou um panorama do TBC no quilombo e disse que esse tipo de atividade fortalece a economia solidária. Ressaltou também que a gestão de todos os processos que envolvem o turismo na comunidade é feita de forma compartilhada. “Não existe chefe" – destacou Daniele.
Além dessas, outras lideranças tradicionais do território participaram ativamente das mesas de diálogo e grupos de trabalho: Jardson e Rafaela (Comunidade Caiçara da Praia do Sono); Genilson (Aldeia Guarani Paraty-Mirim); Júlio (Aldeia Guarani Sapukai); Neuseli (Comunidade Caiçara da Praia do Aventureiro); além de dois representantes da Coordenação Nacional Caiçara – Marcela (Comunidade Caiçara da Praia do Sonos) e Robson (Associação de barqueiros e pescadores tradicionais de Trindade).
Durante a mesa sobre políticas públicas, o coordenador-geral do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), Edmundo Gallo, ressaltou que não é viável discutir o TBC separado da agroecologia, da educação e do saneamento ecológico. “Tudo isso é parte da vida no território” – explicou Gallo. Érika Braz, coordenadora-técnica de TBC do OTSS, avaliou que “este encontro foi um momento importante para dialogarmos com o poder público, a universidade, empresas, ongs e movimentos sociais sobre a importância da política de TBC ser construída e gerencida pelas bases.” Érika também destacou que o evento foi importante por possibilitar a aproximação entre a comunidade caiçara de Ilha Grande e o FCT.
Redes nacionais
Segundo Érika, outro avanço importante do evento foi a aproximação do FCT com duas importantes redes de turismo de base comunitária com protagonismo nacional: o Projeto Bagagem e a Rede Tucum. Mariana Madureira, representante do Projeto Bagagem, e Rosa Martins, representante da Rede Tucum, participaram da mesa de diálogo sobre redes e formas de gestão. "As comunidades perceberam que não dá para ser contra o turismo, e sim que precisamos reformular a forma como ele é feito, valorizando os atrativos da comunidade, sendo protagonistas e criando redes", destacou Rosa Martins. “Podemos nos identificar enquanto processo de luta e resistência comunitária com as comunidades da Rede Tucum do Ceará e as do Projeto Bagagem, que têm no TBC uma estratégia de transformação social e desenvolvimento sustentavel”, explicou Érika.
Tambor, cinema e ciranda
O evento contou com apoio da Cultuar (Fundação de Cultura de Angra dos Reis), que levou alegria com seus tambores e com um cinema inflável. Os participantes assistiram ao filme da campanha Preservar é Resistir, produzido pelo FCT, e ao documentario Cambury – Histórias e Memórias, produzido pelo Projeto Garoupa e levado pela jornalista Vanessa Cancian. O evento terminou com uma belíssima apresentação da Ciranda de Tarituba.
Fotos: Comunicação FCT