Representantes do Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT) – indígenas guarani, quilombolas e caiçaras – marcaram presença no 2º Encontro da Turisol – Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitário. O evento – realizado pelo Projeto Bagagem e co-realizado pelo Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô – aconteceu entre os dias 12 e 14 de agosto, no Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília (UnB). O evento foi uma oportunidade importante de articulação e partilhas entre comunidades, acadêmicos, ongs e agências, possibilitando um reconhecimento das iniciativas de turismo de base comunitária (TBC) em âmbito nacional.
Na primeira mesa de debates, com o tema “Turismo Comunitário e Território: Desafios e Tensões”, o coordenador do FCT, Vagner do Nascimento colocou a necessidade de uma maior participação dos comunitários no evento, trazendo à tona a importância do protagonismo das comunidades no TBC. Comentou também que a agroecologia, permacultura, educação e outros temas andam juntos com o turismo de base comunitária e são ferramentas de luta fundamentais para permanência no território. Robson Possidonio, caiçara de Trindade e membro da Coordenação Nacional Caiçara, relatou a dificuldade de trabalhar o TBC em seu território, pois as práticas tradicionais como o cerco, a roça, a casa de farinha e outras são proibidas pelo Parque Nacional da Serra da Bocaina, ao mesmo tempo que a implantação de Parcerias Público-Privadas são um risco iminente.
Na mesa "Comercialização no turismo solidário e comunitário", a quilombola do Campinho da Independência, Daniele Elias, apresentou um panorama do TBC no quilombo e explicou como estas atividades fortalecem a economia solidária. Destacou que a gestão de todos os processos que envolvem o turismo na comunidade é compartilhada. “Não existe ‘chefe’ e 90% dos produtos servidos no restaurante vem das comunidades tradicionais próximas do quilombo”, afirmou Daniele.
Outras reflexões foram marcantes nas rodas, como a autoria de trabalhos acadêmicos e os princípios que norteiam as agências integrantes da Rede. Em Plenária final, o Conselho da Rede Turisol e demais participantes do encontro propuseram a criação de uma comissão transitória com o objetivo de mapear as iniciativas, avançar nos marcos conceituais e princípios da rede, sua identidade e missão, articular políticas públicas e fortalecer o protagonismo das comunidades na Rede Turisol. O FCT é membro desta nova comissão transitória.
Após o evento, Vagner do Nascimento explicou que essa comissão transitória deve desenvolver a politização da rede, chamando outras entidades representativas das comunidades tradicionais para constituir o núcleo da Rede Turisol, como por exemplo a Coordenação Nacional Caiçara, a Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas e outras.
Espaço do FCT
O espaço do Fórum no evento foi muito procurado pelos participantes. Além das experiências e da vontade de se aproximar de novos parceiros, as lideranças do FCT levaram: mapas de bolso, artesanatos, imagens, vídeos, produtos agroecológicos, alegria e legitimidade. Os representantes do Fórum no encontro foram: Vagner do Nascimento (coordenador), Robson Dias Possidônio (ABAT Trindade), Marcela Cananea (Comunidade Caiçara da Praia do Sono), Juninho (Sertão do Ubatumirim), Daniele Elias (Quilombo do Campinho da Independência), Júlio Karai (Aldeia Sapukai), Eduardo Di Napoli (FCT/Observatório) e Erika Braz (FCT/Observatório).
Mapa de bolso: conheça os roteiros de TBC de 15 comunidades quiombolas, indígenas e caiçaras dos três municípios do fórum. Link aqui!!
Apoio do Observatório
A participação do FCT neste evento recebeu o apoio financeiro e técnico do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina. Financiado pela Funasa e fruto da parceria entre Fiocruz e FCT, o Observatório é um espaço tecnopolítico para o desenvolvimento de soluções territorializadas, baseadas na ecologia de saberes, que têm potencial para se tornarem estratégias regionais e alternativas visando a garantia dos direitos das comunidades tradicionais; especialmente os direitos relacionados ao território, à cultura, às atividades tradicionais e à qualidade de vida.
Encontro de luz, griôs, quilombolas, agricultores, indígenas, caiçaras e sertanejos
Uma grande alegria deste evento foi a identificação entre o FCT e o Grão de Luz e Griô, reconhecendo que a base de nossas lutas estão enraizadas na ancestralidade; que um povo que tem raiz e alimenta sua cultura, caminha firme e unido; e que a beleza está na diversidade de cores, saberes e sabores. Um momento intenso de partilha e reconhecimento de lutas irmãs. Axé!!!
Fotos: Comunicação Fórum de Comunidades Tradicionais